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78% dos brasileiros acham que a quantidade de mulheres na política não faz diferença, mas 9 em cada 10 querem mais candidatas nas próximas eleições, diz pesquisa

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Foto: G1 - Globo
A pesquisa 'Por Mais Mulheres na Política', do Instituto Patrícia Galvão e do Ipec, revela que a população reconhece a importância da presença feminina nos espaços de poder, mas também enxerga barreiras significativas para sua participação efetiva. Mulher vota na urna eleitoral em cabina de votação

Roberto Jayme/Ascom/TSE

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e pelo Ipec, com apoio do Ministério das Mulheres, aponta que 89% dos brasileiros gostariam de ver mais mulheres candidatas nas próximas eleições.

No entanto, 78% afirmam que a quantidade de mulheres na política não faz diferença, pois acreditam que políticos, independentemente do gênero, devem trabalhar para toda a população.

Para Flávia Biroli, professora titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), as posições não são contraditórias.

"Elas podem conviver nesse universo dos valores políticos, porque tem uma coisa que elas têm em comum, elas não são excludentes, elas têm uma percepção de que as mulheres podem, sim, fazer política, ser representantes. De que elas têm qualidades reconhecidas, que podem fazer delas potencialmente políticas competentes, então essa é uma visão que integra as mulheres. E depois que estão eleitas, entendem que devem representar todos, que contemple todos", diz.

Mas, para Biroli, o que escapa à percepção das pessoas ouvidas é a importância da "representação descritiva", que tem relação com a história e a perspectiva das pessoas eleitas.

"Ter mulheres na política, ter pessoas negras na política, ter pessoas LGBT, ter pessoas trans na política, assim como ter pessoas pobres na política, pode significar que as trajetórias dessas pessoas, naquilo que elas têm em comum com outras pessoas, com a mesma posição na sociedade, sejam levadas em conta de maneira mais central do que por pessoas que não viveram o que elas viveram, que não estão nessa posição", diz.

"A gente pode, por exemplo, considerar que homens, mas também mulheres, brancas, de classe média alta, talvez não tenham tanta sensibilidade a questões como creche e tempo integral de escolas, porque tem quem cuide dos seus filhos nos horários em que estão trabalhando, pelo modo como a estrutura social, as relações socioeconômicas e raciais, se organizam no Brasil", completa.

A pesquisa "Por Mais Mulheres na Política" entrevistou 2.000 pessoas em 129 municípios e revelou que a população reconhece a importância da presença feminina nos espaços de poder, mas também enxerga barreiras significativas para sua participação efetiva.

Pesquisa 'Por Mais Mulheres na Política'

Arte/g1

Desafios e barreiras para mulheres na política

Apesar do amplo apoio à presença feminina na política, 77% dos entrevistados acreditam que as mulheres não são incentivadas desde jovens a se interessar pelo tema. Além disso, 84% afirmam que elas sofrem discriminação e deveriam receber mais apoio para ingressar na vida pública.

Entre os principais obstáculos apontados, 41% destacam o assédio e os ataques machistas dentro e fora dos partidos como um grande empecilho para as mulheres seguirem carreira política. A falta de apoio da família, dos políticos e dos partidos também é mencionada por 31% dos entrevistados, assim como a percepção de que o ambiente político é excessivamente corrupto para a presença feminina. Além disso, 27% das mulheres relatam que a dificuldade de conciliar emprego, família e política torna ainda mais árdua a sua participação no cenário eleitoral.

Aceitação e expectativas do eleitorado

A pesquisa também aponta que 96% dos brasileiros declararam que votariam ou poderiam votar em uma mulher para cargos públicos importantes, enquanto apenas 3% afirmam que não votariam de forma alguma. Entre os motivos para escolher candidatas, 36% destacam a maior capacidade de organização das mulheres, 34% ressaltam a importância de sua participação na vida pública e 30% afirmam que elas priorizam temas como saúde, educação e segurança.

A população também acredita que a presença feminina no poder traria avanços em áreas essenciais: 74% apontam a saúde como a principal beneficiada, seguida pela educação (63%). Outras áreas mencionadas incluem segurança (18%), trabalho (11%) e cultura (7%).

Por outro lado, entre os que relutam em votar em mulheres, 25% acreditam que a política é muito agressiva para elas, enquanto o mesmo percentual considera que elas são mais emotivas e tomam decisões com o coração em vez da razão. Além disso, 16% afirmam que as mulheres não suportam a pressão política, e 14% dizem que elas têm dificuldades em lidar com questões técnicas.

Na comparação com o total da amostra, é maior entre os nordestinos a parcela que considera o ambiente político agressivo e competitivo demais para as mulheres (32%) e que elas não aguentam a pressão política (24%). Ao passo que, no Sudeste (52%) e entre quem se autodeclara branco (51%), é mais expressiva a proporção que não cita uma razão específica.

"A pesquisa mostra que a população brasileira reconhece a importância da contribuição das mulheres na política e que se elas estiverem em cargos de poder irão promover mais avanços nas políticas públicas em áreas críticas para toda a população, como saúde e educação. Mais de 4 em cada 10 entrevistados não sabem dar uma razão para não votar em uma mulher. Os que citam motivos subestimam a capacidade das mulheres e assumem posições paternalistas de que o ambiente político é muito agressivo e competitivo e que elas não aguentam pressão", diz Jacira Melo, diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão.

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Cotas e medidas para maior representatividade

A maioria dos entrevistados (59%) é favorável à lei que estabelece cotas mínimas para candidaturas femininas ao Legislativo, enquanto 86% defendem que deveria existir uma lei para garantir uma cota mínima de mulheres eleitas. Além disso, 80% acreditam que partidos que descumprirem a legislação de cotas de candidaturas deveriam ser punidos. Para 73%, partidos que concorrem apenas com homens deveriam disputar menos vagas.

Apesar do apoio majoritário, algumas pessoas se opõem à medida, argumentando que homens e mulheres devem concorrer em condições iguais (66%). Outros apontam que os partidos burlam as cotas com candidaturas fictícias, ou não oferecem apoio adequado às candidatas.

"Sobre a lei de cotas de candidaturas femininas, a maioria da população se diz favorável, mas boa parcela considera que essa medida não funciona porque os partidos conseguem driblar a lei e a Justiça Eleitoral não pune quem a descumpre. Outra barreira bastante citada nesta pesquisa é a falta de apoio da família, além da dificuldade de a mulher conciliar o emprego e cuidado da casa e da família com as atividades político-partidárias. Tudo conspira contra as mulheres na política", afirma Jacira.

E finaliza: "A boa notícia que traz esse levantamento é que brasileiras e brasileiros querem ver mais candidaturas de mulheres nas próximas eleições. Então, é preciso, acima de tudo, estimular e apoiar as mulheres a participarem da vida política para que consigam acesso a cargos de poder e decisão e possam contribuir para o avanço da política brasileira".

G1

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