Presidente afirmou que não se pode permitir que o Brasil vire uma 'República de ladrões de celular' e completou: 'Lugar de bandido não é na rua'. Um assessor resumiu essa guinada: 'a ficha caiu'. Presidente Lula
Ricardo Stuckert/PR
O presidente Lula deu um cavalo de pau no discurso sobre segurança pública, o que significa uma derrota do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Em uma solenidade, Lula afirmou que não se pode permitir que o Brasil vire uma "República de ladrões de celular" e completou: "Lugar de bandido não é na rua". O que vale dizer que lugar de bandido é na cadeia.
A esquerda, costumeiramente, quando vai abordar esse tema evita falar em repressão e aborda a questão sempre pelo lado social. Em 2022, por exemplo, Lula também falou de roubo de celular, mas sob outra ótica. Ele disse que "não se pode permitir que jovens continuem tendo como razão de vida roubar celular para sobreviver". A frase é usada até hoje pela oposição como exemplo de que Lula defende ladrões de celulares.
A guinada no discurso se deu por vários motivos. Primeiro porque o novo ministro de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, percebeu lendo as pesquisas de opinião que segurança pública é uma das principais preocupações da população brasileira e um dos pontos fracos do governo. Há também pressão do ministro Ricardo Lewandowski para que o governo abrace a PEC da Segurança, o que não aconteceu até agora. E, por fim, há também o faro político do presidente Lula.
PEC da Segurança
A PEC da Segurança estava engavetada na Casa Civil porque o ministro Rui Costa tem uma visão semelhante à da ex-presidente Dilma Rousseff: a de que o governo federal não deve se meter no tema, deixando a batata quente para os governadores.
A PEC da Segurança de Lewandowski defende um princípio elementar, o de que as polícias devem ser integradas e trocar informações, exatamente como acontece com o crime organizado. Recentemente, Primeiro Comanda da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), as duas maiores facções criminosas do país, selaram um pacto de união.
A esquerda tem tanta dificuldade em abordar o tema segurança pública que o Partido dos Trabalhadores (PT) até esconde seu legado nesse campo, como, por exemplo, a criação nos primeiros governos Lula do Programa Nacional de Segurança Pública (Pronasci). O programa mesclava medidas de prevenção com repressão e também financiamento de instituições policiais e foi descontinuado.
O ex-ministro da Justiça de Lula, Tarso Genro, que criou o Pronasci, acredita que o atual governo ainda não forjou uma política estratégica para a segurança pública. Tarso defende a recriação do Ministério da Segurança Pública, criado no governo Temer.
A criação do Ministério da Segurança Pública chegou a ser prometida em campanha eleitoral e no momento não está no radar do governo Lula. Mas um assessor do presidente resumiu a guinada no discurso de Lula: "a ficha caiu".